O medo de viver

As defesas que erguemos para nos proteger criam a condição mesma que estamos tentando evitar. Assim, quando alguém constrói um castelo para proteger sua liberdade, acaba prisioneiro de sua própria obra porque não ousa mais sair de lá. Por exemplo, a pessoa que movida pelo medo da rejeição, defende-se não se abrindo nem indo ao encontro das pessoas, isola-se e assegura, por meio desta manobra, que sempre venha a se sentir rejeitado. A pessoa ergue paredes e barreiras psicológicas, defendendo-se dentro de uma couraça muscular, como proteção contra possíveis mágoas, somente para descobrir a tão temida dor enterrada junto com ela por este próprio processo.

A formação da couraça muscular ocorre quando suprimos sentimentos e sensações. O mecanismo para esta supressão é o desenvolvimentos de tensões musculares crônicas, que bloqueiam os movimentos que iriam expressar tais sentimentos e sensações. Se, por exemplo, uma pessoa quer suprimir um impulso de chorar porque tem vergonha, tensionará os músculos da garganta para impedir que os soluços sejam expressos. Poderíamos dizer que o impulso foi sufocado ou que a pessoa engoliu as lágrimas. Neste caso, a pessoa tem consciência do sentimento de tristeza ou da vontade de chorar. Porém, se o não chorar tornar-se parte do modo de ser da pessoa, então as tensões nos músculos de sua garganta ganham uma qualidade crônica e passa para o nível da inconsciência. A pessoa talvez esteja deprimida e reconheça que está infeliz, mas não consegue expressar sua tristeza. A supressão de uma sensação não a faz desaparecer; somente empurra- mais para baixo, mais fundo, até o inconsciente.